sábado, 16 de agosto de 2008

Noite sem brilho




Luiz Carlos dos Santos: ''Eu sou falido. Venho aqui desde que inaugurou''
Fotos: Letícia Moreira

A 'melhor janta da cidade', na Casa João Durvalino, começa a ser servida às 18 horas


Arly Brasil: ''Às vezes, é a única refeição que essas pessoas fazem é aqui''
Noite de sexta-feira na capital do Paraná. Temperatura amena, em torno dos 14 graus. Dia de sair com os amigos, dançar, beber, namorar. No entanto, nas ruas da cidade outro tipo de movimentação acontece sem chamar a atenção. São os 2.776 moradores de rua de Curitiba (segundo a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua) que vagueam, principalmente pelos bairros do Centro, em busca de calor, comida e conforto para passar a noite.

Na Rua Desembargador Westphalen, 1.207, a ''melhor janta da cidade'' começa a ser servida às 18 horas e termina só quando o último prato for servido. ''Aqui a comida é muito boa e o atendimento é ótimo'', elogia Sidnei Claro, 23 anos. Desempregado, Claro veio de Telêmaco Borba (128 km ao norte de Ponta Grossa) há três meses. Ele mora com o primo, Servino Leal, 26, e é assíduo na Casa João Durvalino.

Para os ''clientes'', a principal vantagem do local é o acesso fácil e a farta distribuição de comida. Na última sexta-feira a Casa atendeu 134 pessoas. Para entrar, basta informar o nome. E quem come por lá pode encher o prato quantas vezes quiser. ''Às vezes, a única refeição que essas pessoas fazem é aqui'', explica Arly Brasil, um dos fundadores do espaço, que é mantido pela Fundação de Ação Social (FAS).

No menu do dia, arroz, feijão e abóbora com carne em porções generosas. Também é servida sobremesa e água mineral a vontade. Quem fica até o fim tem direito a levar uma ''quentinha'' para casa. É só levar uma embalagem. Alguns jantam e ainda levam uma porção extra para o dia seguinte. Mas não é só a comida farta que garante casa cheia todas as noites. ''Eu sou falido. Venho aqui desde que inaugurou'', conta Luiz Carlos dos Santos, 26. Ele trabalha de flanelinha e conta com a Casa para se alimentar sem causar um rombo no orçamento.

Já o vendedor Israel Sandro Pereira, 35 anos, frequenta o lugar por motivos menos econômicos. ''Meus amigos estão sempre por aqui'', diz. ''Mas tem gente que vem por necessidade'', informa.

Entre os frequentadores há todo tipo de gente. Há até alguém que se apresenta como Júlio Iglesias. E completa: ''Sou o cantor da Inglaterra''.

''Mas criança a gente só pode atender se estiver acompanhada dos pais'', explica Arly. Quando aparecem por ali, as crianças são encaminhadas para o

projeto Criança Quer Futuro, da prefeitura.

A comida acaba em torno das 21 horas. Em pouco tempo os voluntários já deixam toda a Casa em ordem para o jantar do dia seguinte. Tudo limpo, organizado. O trabalho é realizado por gente como a advogada Maria Regina Calvo, que ajuda na cozinha a cada 15 dias. A trajetória de Maria até a Casa passou pelas caminhadas diárias no Jardim Botânico. ''Meus companheiros de caminhada faziam parte desse projeto'', conta.

Nenhum comentário: