sábado, 16 de agosto de 2008

Festa estranha com gente esquisita

Virar uma commodity. É esse o target. Tá entendendo? Porque hoje todo mundo tem direito ao seu market share. O importante é você fazer uma brain storm e identificar no que é strong e no que é weak. Tá acompanhando o raciocínio? Tá tudo aqui, ó. É só anotar nas tarjetas e colar na parede.

Reunião de acionistas? Não, curso de gestão para organizações sociais. Mas não perca o foco. O importante é entender o business. Já tem uma ONG que distribui roupas para crianças? Que tal trabalhar com quem ainda não tem uma calça jeans? Porque as pessoas se concentram demais nessa história de fome mundial e esquecem que tem quem precise de uma roupa de brim.

Mas não pense que é simples. Trabalho social é coisa séria. Profissionalizado. Nada disso de achar que é só pegar a calça jeans e entregar para quem não tem. Tem que fazer pesquisa de mercado. Entender o seu público. Saber seus sonhos, aspirações. A idéia é saber de onde ele veio e para onde vai.

Se der, o canal é promover uma dinâmica de grupo. Coisa simples, para estimular uma visão de comunidade. Sabe como? Porque é só uma calça jeans, mas pode ser também cidadania. Entendeu a ligação? Todo mundo numa salinha, falando da vila e vendo como está tudo assim, conectado. Da favela para o mundo. E tudo começa ali, naquela roupa azul.

Tem que pensar na sustentabilidade, geração de renda. É isso aí! Vamos precisar de um empreendedor, de um captador de recursos e de alguém para fazer marketing social. Reserve uns 10% para garantir o feedback dos patrocinadores. E não esqueça de convocar voluntários, muitos voluntários. Há trabalho a ser feito. Adivinha só quem vai lavar a roupa suja?

E na hora de entregar as calças, não esqueça de ninguém. Tem que chamar o vereador do bairro, o presidente da associação, o líder da comunidade, o representante do prefeito, o padre, o pastor e o curandeiro. Todo mundo tem seu espaço. Mudar o mundo é isso aí.

No fim, só falta pensar na mística do projeto. Uma coisa que reúna as pessoas. Motivação, entende? Bote todo mundo numa salinha. É importante ter uns versinhos por perto. Para ler enquanto pede que todos dêem as mãos e formem uma roda. Tem que ter uma roda. Especialmente na hora do testemunho. ''Eu não tinha nada e vocês me deram essa calça e agora tudo parece mais fácil, mais bonito''. Eis o slogan do projeto: Mudando o mundo um jeans de cada vez.

Eu, hein? Tô fora!

Publicado na Folha de Londrina em 5 de junho de 2008

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