domingo, 17 de agosto de 2008

Pai realiza parto da filha

Lineu Filho
ro_parto1.jpg
Natália, Luna e César.


Aos quatro meses de gravidez, Natália Demes Bezerra Tavares Pereira, de 23 anos, e o marido, César Augusto Tavares Pereira, de 27 anos, tomaram uma decisão: ele participaria do parto. “Foi uma idéia que começou como brincadeira, mas que foi ficando séria”, disse Cesar. “Eu dizia: confio mais em você do que no médico. E no fim, foi ele mesmo que fez o parto”, completa Natália.

Luna nasceu há duas semanas, na Maternidade Curitiba. Sob a supervisão do médico Carlos Miner Navarro, César segurou o bebê nos estágios finais do parto, puxou a criança durante a última contração e a colocou sobre o colo da mãe. “Na hora, não senti medo nem nada. Parecia que eu sabia que estava fazendo”, contou César.

O pai-parteiro não recebeu nenhuma instrução anterior. “A gente conversou sobre o parto, mas não fiz nenhuma preparação para participar. Na hora, o Dr. Carlos ficou ao meu lado explicando o que eu tinha que fazer”, relatou.

Foto: arquivo da família
ro_parto2.jpg
Natália se prepara para os momentos finais do parto.



“Assisti a alguns partos na televisão, mas descobri que na hora, ao vivo, é menos assustador”, entregou César. “Meu maior medo era derrubar o bebê, porque tudo parece muito escorregadio. Mas era um medo infundado. E a equipe – os médicos, enfermeiros – me deram muita segurança”, continuou.

“Eu não tinha certeza se ia fazer o parto”, confessou César. Momentos antes das contrações finais, ele disse a Natália que ia desistir. “Mas daí eu disse: faça o parto. E ele fez”, riu-se Natália. Até as enfermeiras duvidavam da coragem do pai-parteiro. “Parece até que fizeram uma aposta de que eu ia desistir”, contou.

Parto humanizado

Foto: arquivo da família
ro_parto3.jpg
Cesar, ainda vestido de médico, com Luna e Natália logo após o parto.


A peripécia de César na maternidade é parte de um movimento que tem nome e adeptos em todo o país: chama-se parto humanizado. “O parto humanizado é um conjunto de ações que tem o objetivo de desmistificar o parto, deixar a gestante participar das decisões desse momento para que seja um processo natural, tranqüilo para a mãe”, explicou o obstetra Carlos Miner Navarro.

“Antes a gestante chegava ao hospital e era submetida a uma série de procedimentos, alguns até desnecessários, e não se explicava nada à paciente”, disse o médico. No parto humanizado, a mãe participa mais ativamente do processo do nascimento. Um fator importante para a tranqüilidade da gestante nesse momento é a presença de um acompanhante. “Se a mulher estiver acompanhada por alguém próximo, a dor, a ansiedade, o desconforto do parto é menor”, avisou.

Natália comprovou isso na prática. “A presença do César foi essencial. Ele me transmitiu confiança, tranqüilidade. Não só durante o parto, mas durante toda a gravidez”, narrou. “Acho que por ele ter sido o ‘parteiro’ permitiu que houvesse uma espécie de encerramento do processo para ele”, analisou Natália. “Porque às vezes o pai fica um pouco de lado nisso tudo. E se ele não assiste o parto, acho que perde um pouquinho”, completou.

Desafio

Foto: arquivo da família.
ro_parto4.jpg
César e Luna posam ao lado dos avós paternos e maternos.


Não foi fácil para o casal César e Natália realizar um parto mais natural. “O hospital, os médicos, os enfermeiros são programados para realizar um procedimento padrão. Então quando dissemos que queríamos algo mais natural, notamos um pouco de resistência”, disse Natália.

Para eles, o problema começou com a obstetra. “Nossa primeira médica era pouco dialógica”, reclamou. Descontente, o casal procurou indicações de profissionais na internet. “Visitei muitos sites sobre parto humanizado”, explicou. Acabaram encontrando o obstetra Carlos Navarro.

“Já na primeira consulta perguntamos se o César poderia participar do parto e ele disse que podia”, narrou. Carlos fez mais que isso. Mostrou a dupla fotos de outro parto no qual a própria mãe segurou a criança já nos estágios finais do nascimento, quando o bebê está com parte do corpo já para fora do corpo da mãe. “Ficamos bastante empolgados”, disse César.

Com o apoio do médico e as informações que colheram na internet, os dois ficaram mais confiantes. “Não fizemos nenhum curso, nem compramos livros nem nada. Nosso objetivo é que tudo fosse natural, instintivo. E foi isso que aconteceu”, relatou Natália.

No fim, mais do que um parto tranqüilo e seguro, o trio – Natália, César e Luna – ganhou uma experiência inesquecível. “Eu cuidei da minha mulher durante toda a gravidez. E daí ajudei a minha filha a nascer. Espero que nossa experiência inspire outros casais a fazer o mesmo. Eu recomendo”, completou.

Mais informações sobre parto humanizado:
www.amigasdoparto.org.br
www.partodoprincipio.com.br
www.partohumanizado.com.br

Nenhum comentário: